Não tem memória bem verdade,
Mas funciona como um relógio todas as manhãs
Ela acorda precisamente as 7h30,
Praticamente escorrega da cama até o banheiro,
Parece só abrir os olhos quando a água morna percorre seu corpo inteiro.
O barulho da água é o primeiro som a penetrarem nos seus ouvidos...
Quando passa em frente ao espelho, sorri, e se acha bonita
E nesse instante rotineiro se existisse um som,
Seria do pente marrom, deslizando nos seus cabelos
O som até existe, mas é tão suave... que não sei descrevê-lo.
Olha a cama cuidadosamente
Dobra os lençóis, milimetricamente alinhando-os, enquanto recorda o sua irmã lhe dissera:
“-Anjos da guarda são preguiçosos e só despertam, depois da cama arrumada.”
O silencio pairava até ela sorrir, imaginando a coragem do seu anjo, acordando, os olhos esfregando para novo dia de proteção.
É possível ouvir seus passos até a cozinha,
O barulho do talher e da caneca da aula da saudade...
Ela se apóia em um dos pés,
Ainda não se acostumou a tomar café, sozinha...
Sem criança gritando, adulto brigando, Vó ‘dengando’... Aquela grande folia.
Viu em algum lugar que a felicidade mora numa casa amarela. A dela é...
E mesmo minúscula, sendo
Aqueles três cômodos, que são quase um vão,
São para ela um santuário secreto.
Ali os dias, hora voam,
E são eternos, muitas horas..
Ela esta sozinha e não se sente solitária
Ela canta desafinando e não liga...
Às vezes contempla o silêncio... Para acalmar a alma
Queima seus incensos porque acha o cheiro bom
Ouvi suas musicas, seus barulhos,
Às vezes até dança, parece uma criança piruetando...
Pouca gente sabe, que ela é uma excelente dona de casa, nuca explodiu nada.
Na verdade muitos sabem de pouca coisa.
Nem todos apreciariam ouvi-la
Alguns por não conseguir entender, ela não fala
Outros não merecem saber de coisas tão dela
Raros são aqueles para quem mostra seus retalhos
E conta-se nos dedos os que conseguem esses retalhos juntar
É metida a poetisa, mas só escreve por terapia
Gosta do som do teclado, de dividir sua poesia,
Às vezes chora ao escrever, às vezes escreve e nem vê,
Outras vezes lê, reler e apaga,
Há coisas que precisam ficar guardadas...
...
Um caminhão passou na rua,
Interrompeu o barulhinho, frenético, do teclado
Ela parou, e esqueceu... Emudeceu.
Permanecendo apelas o vento,
Lembrou-se naquele momento,
De um dos sons mais belos a que a solidão lhe permitira,
Ouvir canto de pássaro, livre
Do batente da sua cozinha.
Sandrinha Ramos
P.S.: O título do poema veio da definição que Lane Sol deu para o blog.
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