segunda-feira, 25 de abril de 2011

Novos desafios para educação na escola


Novos desafios para educação na escola

No dia 07 de abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira cometeu suicídio após matar 12 estudantes em uma escola no bairro de Realengo no Rio de Janeiro. Uma história figurada apenas por vitimas. Nem todo motivo serve como justificativa, mas é óbvio que toda conseqüência tem uma causa.
No computador de Wellington foi encontrado um vídeo afirmando que o bullying sofrido por ele foi a principal motivação para o massacre na escola. "Eu era agredido, humilhado, ridicularizado (...), mas o que mais me irrita hoje é saber que esse cenário vem se repetindo sem que nada seja feito contra essas pessoas covardes e cruéis."
Todos os meios de comunicação noticiaram a tragédia. Em uma dessas manhãs eu assistia ao programa Mais Você, quando a apresentadora Ana Maria Braga, anunciou que uma das sobreviventes do massacre e um psiquiatra estariam no programa para falar sobre o assunto.
Durante o programa algo me chamou a atenção. Ao perguntar qual seria a melhor forma de se enfrentar tal situação, foi sugerida uma medida de prevenção. Ana Maria opinou que em todas as escolas deveriam existir ao menos um pedagogo, por ser, no ponto de vista dela, o profissional indicado para identificar quais crianças tem comportamentos atípicos e a partir da identificação determinar as causas, na intenção de dar a essas crianças uma educação diferenciada. Foi comentado ainda que o perfil de assassinos que cometeram crimes parecidos com o massacre de Realengo era o de alunos isolados e muito tímidos.
Sou aluno do curso de pedagogia de um dos departamentos mais respeitados na Bahia e talvez no Brasil, e enquanto ouvia tudo aquilo, me perguntava o porquê de meu curso não discutir algumas situações tão pertinentes da educação. Tive uma professora que sempre dizia em sala de aula que as crises e os conflitos servem para quebrar paradigmas e gerar novas práticas. Também fui ensinado que assim como tudo na vida a educação é um processo em mutação constante e temos a obrigação de evoluir junto.
Timothy Brewerton, um psiquiatra americano que tratou de alguns dos estudantes sobreviventes do massacre de Columbine, em 1999, nos Estados Unidos, apresentou no Rio um estudo realizado pelo serviço secreto do seu país cujo resultado apontou que, nos 66 ataques em escolas que ocorreram no mundo de1966 a 2011, 87% dos atiradores sofriam bullying e foram movidos pelo desejo de vingança. O levantamento apontou que nos EUA, 160 mil alunos faltam diariamente no colégio por medo de sofrer humilhações, surras ou agressões verbais.
Segundo outro estudo realizado nos EUA, a psicopatia atinge cerca de 4% da população (3% de homens e 1% de mulheres), segundo a classificação americana de transtornos mentais. Esses dados revelam o cenário atual que não deve ser encarado apenas como responsabilidade dos profissionais de segurança ou da área de psicologia.
É óbvio que um pedagogo não é preparado para diagnosticar esquizofrenia, psicopatia ou qualquer outro distúrbio mental. Não nos cabe tal papel. No entanto com os incidentes relacionados a bullying crescendo a cada dia, torna-se necessária a discussão imediata de tais assuntos no sentido de descobrir uma forma da educação contribuir na luta contra tais violências.
Segundo Paulo Freire a leitura de mundo precede a leitura das palavras. Entendo que tanto currículo quanto ementas são construídos no sentido de formar educadores contextualizados. Será que nas nossas ementas e no nosso currículo não existe lugar para essa discussão? Se existe, porque nós não estamos discutindo? Por quanto tempo mais ficaremos a margem dessas discussões? Quanto mais tempo se perde, menos contribuímos como educadores. E a contribuição de um educador tem importância vital. Não devemos nos esquecer que normalmente somos nós os primeiros formadores de caráter e de opinião dos protagonistas desses massacres, pelo menos eu não me recordo de noticiarem assassinos analfabetos. Adiar essa discussão na academia é adiar nossa contribuição e isso contesta diretamente nossa capacidade de evolução e de posicionamento diante de novos desafios.
“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.” Paulo Freire

*Cléber Souza é graduando do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

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